O Grito
uma distopia utópica
Em dezembro de 2024 participei de uma oficina de microcontos com a maravilhosa Taty Guedes , essa atividade aconteceu durante o Webinário do Clube de Teoria Feminista Ontem e Hoje. Posteriormente as criações desenvolvidas durante a oficina foram publicadas na edição especial de natal da Revista Ginetopia, uma revista virtual coordenada e criado pela Suzana Veiga e que eu participo como colunista de audiovisual. Inclusive, a revista está disponível para assinatura, basta acessar o instagram da revista (@revistaginetopia) que lá tem todas as informações.
Espero que gostem
O grito
Eles disseram que estavam salvando o país, essa nação corrompida pela permissividade. Disseram que o melhor agora seria voltarmos para nossas casas, nossos filhos, aquela vida no mundo é que nos oprimia.
Primeiro nos proibiram de manter nossos empregos. Depois aceitamos um governo de exceção. Seria transitório, eles disseram. Vinte anos e já não podíamos sair de casa. A rua não era lugar seguro para nós, eles só queriam nos proteger, eles se sacrificavam para que não precisássemos.
Cinco anos depois, e nos proibiram de ler, escrever ou nos comunicarmos. Aprendemos a andar nas sombras, a falar sem palavras, a bordar nossos sentimentos e dançar a nossa raiva. Aos pouquinhos, como quem joga sementes no solo fértil com a esperança de uma colheita farta no futuro, a fogueira foi acesa e não seríamos nós a queimar dessa vez. Éramos invisíveis, e na insignificância tecemos a nossa revolta, com a linguagem de quem tem olhos para ouvir.
E, nessa língua sem palavras, naquele jantar, o último discurso do presidente. Éramos invisíveis, e na insignificância tecemos a nossa revolta, com a linguagem de quem tem olhos para ouvir. E, nessa língua sem palavras, naquele jantar, o último discurso do presidente. Em sua pequenez arrogante, a sua fala sufocada pelo gosto de sangue na boca e o frio do aço da faca em sua garganta.
No salão agora só se ouvia o grito de liberdade encarcerado por décadas dentro daquelas mulheres.


